Rinossinusite Bacteriana

A rinossinusite aguda, vulgo, sinusite, é uma condição frequentemente diagnosticada nos cuidados primários, sendo o diagnóstico essencialmente clínico (feito com base na história clínica e no exame físico, sem investigação radiológica ou bacteriológica). Afeta 1% a 5% da população adulta a cada ano na Europa.1

Embora seja uma situação frequente na prática clínica, a sinusite aguda é muitas vezes mal diagnosticado porque os seus sintomas são semelhantes aos de outras patologias mais frequentes. O diagnóstico precoce e o tratamento atempado são essenciais para se evitarem as complicações.

Causas e manifestações da rinossinusite bacteriana aguda

A rinossinusite bacteriana, vulgarmente conhecida como sinusite, define-se como uma inflamação de um ou mais dos seios perinasais que persiste durante menos de 3 semanas.

Nos adultos, a sinusite é sobretudo maxilar, seguida por ordem de frequência de envolvimento pela infeção dos seios etmoidais, frontais e esfenoidais. Nas crianças, a sinusite é sobretudo etmoidal. A sinusite é provocado por qualquer mecanismo que obstrua os orifícios dos seios perinasais (por ex. infeção viral) e provoque edema das membranas mucosas, reduza a limpeza ciliar e determine acumulação de líquido. Estas situações facilitam a proliferação bacteriana. Outros factores que podem ajudar ao aparecimento de sinusite aguda são a redução das defesas do hospedeiro, a introdução de bactérias nos seios a partir de focos de origem dentária, a utilização excessiva de descongestionantes nasais, alterações da anatomia do nariz e corpos estranhos intranasais.

Os sintomas clássicos da sinusite aguda são as cefaleias, a rinorreia anterior ou posterior e a febre. No entanto, estes sintomas podem estar ausentes ou surgir isoladamente.

Outros sintomas que podem associar-se à sinusite aguda são o edema periorbitário, a dor de dentes, a dor de cabeça, a dor de garganta, a pieira, a tosse e a diminuição do olfacto. Alguns destes sintomas são igualmente característicos das infeções virais das vias aéreas superiores e da rinite alérgica. A rinorreia posterior purulenta é o sinal mais fiável de diferenciação entre sinusite e rinite alérgica.

Diagnóstico de Sinusite Aguda

O diagnóstico de sinusite aguda pode ser efetuado com um alto grau de probabilidade quando existem quatro ou mais dos seguintes sinais ou sintomas:

  • Odontalgia maxilar
  • Redução da transiluminação dos seios perinasais ou opacificação dos mesmos
  • Má resposta aos descongestionantes nasais
  • Rinorreia com cor ou rinorreia mucopurulenta
Se todos estes sintomas estiverem ausentes, pode afastar-se o diagnóstico de sinusite aguda.

No entanto, este diagnóstico só pode ser confirmado por punção do seio perinasal ou cultura do aspirado. O aspirado mostra Streptococcus pneumoniae em aproximadamente 35% dos casos e Haemophilus influenzae em 25%. Quatro microrganismos observados mais raramente são a Moraxella catarrhalis, Staphylococcus aureus, Streptococcus pyogenes e Pseudomonas aeruginosa. A punção dos seios perinasais não é um procedimento de rotina, pelo que têm de ser usados outros meios mais práticos para efectuar o diagnóstico.

Várias ferramentas de diagnóstico são úteis para identificar a sinusite aguda:

  • o exame radiográfico dos seios perinasais 
  • a tomografia computadorizada (TC)
  • a ressonância magnética (RM)
  • a transiluminação
  • a rinoscopia com fibroscópio
A radiografia dos seios perinasais pode mostrar a existência de espessamento da mucosa, níveis líquidos ou opacificação sinusal.  No entanto, uma radiografia normal não permite excluir o diagnóstico e este método tem uma elevada taxa de falsos-positivos e de falsos-negativos.

Os tomogramas por TC ou RM são úteis na definição da anatomia dos seios perinasais.  Por este motivo, são especialmente úteis para avaliar os casos de sinusite crónica, que mais frequentemente do que a sinusite aguda, se associa com alterações da anatomia. 

A transiluminação é um método pouco preciso de fazer o diagnóstico de sinusite aguda porque não permite avaliar o grau de espessamento da mucosa. No entanto, quando se observa uma transmissão normal da luz, provavelmente não haverá infeção dos seios.

A rinoscopia permite observar alterações inflamatórias nos seios etmoidais e maxilares. É igualmente um método muito útil para obtenção de bom material para cultura, para corrigir obstruções e para avaliar a sinusite crónica ou recorrente.

Tratamento da Sinusite Aguda

O tratamento atempado da sinusite aguda previne a lesão permanente das mucosas, a sinusite crónica e complicações mais graves como a celulite da órbita, nevrite óptica, trombose do seio cavernoso e abcesso subdural. Mesmo que o diagnóstico não possa ser confirmado, pode iniciar-se tratamento empírico, porque a maioria das infeções dos seios são provocados por H. influenzae ou S. pneumoniae. O tratamento é feito habitualmente com antibióticos e descongestionantes, assim como com esteróides tópicos, se houver simultaneamente rinite alérgica.

Medida não farmacológicas podem, também, contribuir também para aliviar os sintomas. Entre estas estão as inalações com soro fisiológico, os adstringentes e o ar quente e seco. Se os sintomas persistirem, o diagnóstico deve ser reconfirmado.

Os doentes devem ser enviados a um otorrinolaringologista, se aparecerem complicações, se houver agravamento após dois dias de tratamento, se o tratamento não resultar ao fim de dois ciclos de antibióticos adequados à situação e se o doente estiver imunodeprimido ou aparecer uma infeção nosocomial. Nestes casos deve ser obtida uma TC dos seios perinasais.

Referências:

1. Ah-See K. Sinusitis (acute rhinosinusitis). BMJ Clin Evid. 2015; 2015: 0511.